segunda-feira, 2 de junho de 2008

Cama para solidão...(Mairá Viana)

"Escolhera viver só. Achava que estaria melhor consigo mesma do que com alguém que estivesse ali somente para passar o tempo. Acreditava na ciência, na lógica. Buscava um sentido. Pois tudo o que acontecia tinha de ter um porquê, mesmo que para ela fosse dificil compreender qual. Era cética. E mais: pagã, atéia e só. Era forte. Era fraca. Dependia. Do dia, dos porquês que encontrava pelo caminho, das contas que tinha a pagar e, principalmente, do ciclo menstrual que insistia em desregular o seu senso-de-humor. Vez ou outra, abria as janelas de casa e tinha uma dimensão maior de sua história. Via seu espaço e a mata ao redor: aquele silêncio fazendo cama para solidão; a certeza da segurança que vai além de chaves e fechaduras; a desesperança de qualquer visita ou mágoa sem aviso prévio. Assim era a menina: excessivamente só. Insistia na solidão, afinal, era muito mais tranquila a sobrevivência longe do convívio com as pessoas do mundo. Evitava a intimidade. Encontrava em curtas saudações uma maneira fácil e prática de lidar com as situações cotidianas. Por isso, esforçava-se ao esboçar expressões como: "Boa Tarde", "Como Vai?" e "Até logo". E era só. Nos momentos de crise, sentia-se melhor ao constatar que poderia, a qualquer momento, optar pelo abandono de si mesma. Fazia-se livre para se reinventar como melhor lhe conviesse. Sentia-se sorteada por ter direito às escolhas da vida e, dentre tantas, talvez a mais acertada tenha sido essa. Escolhera viver só. Achava mesmo que estaria melhor consigo própria do que com alguem que estivesse ali somente para ocupar um lugar no espaço."

Pois é...

Um comentário:

Anônimo disse...

ESSE TEXTO É O MELHOR DOS MELHORES =]

BJU CARINÁ

Interessante =O

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