quinta-feira, 17 de abril de 2008

Amores distantes

Quem naum amou sem, de repente, já naum poder trocar um bjo, um olhar, um sim, ou mesmo um naum? Amores distantes são fantasmas, presenças incorpóreas, arrepios de vento ou de lembranças - naum de tokes.
Quem naum amou pelo breve tempo de uma viagem, sabendo ke ali na frente estava a volta com suas impossibilidades? O alongado tempo da ausência? Como se interpõe um oceano entre dois desejos, como se plantam montanhas, meridianos, paralelos entre duas ânsias de es
tar junto? Amantes separados têm necessidades ke nenhum e-mail alivia, nenhuma carta com beijo de batom ameniza, nenhum telefonema consola - ao contrário: mas apertam o coração e o resto.
Quem naum se apaixonou e teve de se afastar, só, deixando para trás um pedaço de si, transformado em metade, roubado do amor por uma transferência do trabalho, uma oportunidade, uma família ke se muda? Ou kem, por outro lado, teve de ficar e se resignar, também metade?Duas metades oxidando suas cicatrizes, como laranja partida.

Quem
naum se enganou, pensando ke era fugaz o amor e o dispensou, sem pena de ver partir? Amor ke mais tarde se revelou brasa dormindo sob as cinzas, mas agora sem remédio, pois o preterido se tornara de outra o preferido.
E kem não amou secretamente, por algum motivo?
Já foram mais duros, os impedimentos do amor; as distâncias, mais impossíveis de vencer. Filhas eram postas em conventos pelos pais, ke keriam matar sufocado algum amor ke repudiavam. Até princesas eram encerradas em torres. Hoje princesas namoram cavalariços.

O inconfidente preso Tomás Antônio Gonzaga, o Dirceu de Marília, consolava-se com os
poemas ke escrevia para a amada no presídio de Vila Rica, impossibilitado de vê-la:
"Nesta cruel masmorra tenebrosa
ainda vendo estou teus olhos belos,
a testa formosa,

os dentes nevados,
os negros cabelos".
Ou este outro, escrito na prisão da Ilha Das Cobras, no Rio De Janeiro, sempre figurando a noiva:
"Nesta triste masmorra,
de um semi-vivo corpo sepultura,
inda, Marília, adoro
a tua formosura.
Amor na minha idéia te retrata;
busca, extremoso,ke eu assim resista
à dor imensa ke me cerca e mata".
Foi de lá exilado para África e nunca mais a viu.
De tais tormentos naum se podem keixar os presos de hj, nestes tempos liberais ke facultam a visita íntima - amor é abraço.
Até impedimentos banais foram cantados, como nesta canção dos anos de 1940:
"Oi, eu de cá, vc de lá
do outro lado a lagoa
de dia naum tenho tempo
de noite naum tem canoa".
Boleros, sambas, valsas, modas sertanejas, tangos, blues, baladas, axés, reggaes, rocks - em todos os ritmos as canções falaram de amores a distância, pq a verdade é ke amores venturosos naum costumam dar ibope.
"Kem parte leva saudade de alguém
ke fik chorando de dor."
Há abismos ke nós mesmos abrimos, por faltar ousadia para dar o passo; há Julietas frustradas em balcões ke naum galgamos, Romeus vacilantes; há barreiras como a guerra, a doença, o fanatismo, o racismo, o autoritarismo, o casamento, ke os apaixonados, mesmo próximos, por frakeza ou juízo naum conseguem transpor - tudo é distância, pois amor é abraço.
- E vc, poeta? - pergunto.
- Em outro hemisfério já deixei suspirosas Cristinas, Bárbaras e Ellens, suspiros fikeipor ausentes Guidas e Vidinhas. Mas houve amores ke venceram distâncias e naum conseguiram vencer o tempo. E vc, cronista?
- Cultivo o amor de convivência. Pq amor é abraço.
(Ivan Angelo - veja sp, 05 de março, 2008)


2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, simplesmente perfeito.

Anônimo disse...

Uau!
Blog da Carina tbm é cultura...
Lindo, porém complexo demais =]

Bjão Ca

Amoo¹²³¹²³

Interessante =O

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